Livre, leve e solta
A revista Veja, naquela matéria-que-não-se-cola-o-link, tentou emplacar o perfil da “Bela, Recatada e do Lar” como padrão de comportamento feminino.
Mesmo pra uma sociedade machista como a nossa, parece que o semanário errou a mão. Em lugar de impressionar com seu modelo de primeira-dama, virou chacota. As redes sociais não perdoaram: um monte de gente compartilhou fotos de seu lado trash com a hashtag que ironicamente continha o título da matéria.
A galera se expressou, sentindo-se super ousada e progressista ao confrontar a caretice do manual Civita para donzelas pós-modernas. De quebra, deu pra rir daquelas fotos bagaceiras da noite mais louca da vida ou de um passado remoto. Bacana.
Mas sabe o que seria espetacular agora? Combinarmos de vez, assim, como galera ousada e progressista, que não iremos criticar mulheres que:
- São sexualmente liberadas e libertárias;
- Usam roupas mais curtas/justas/transparentes/decotadas do que a princípio você consideraria apropriado;
- Usam roupas mais largadas/esportivas do que a princípio você consideraria apropriado;
- Adoram uma mega maquiagem e fazer carão;
- Detestam maquiagem e não passam nem um batonzinho;
- Falam palavrão nas mesmas situações em que seria comum um homem falar, ou nas que seria mesmo incomum;
- Assumem suas ambições profissionais e seus próprios méritos sem nenhum constrangimento;
- Chefiam equipes com aquelas mesmas grandes qualidades que todos admiram nos homens: objetividade, assertividade, ousadia e liderança;
- Reivindicam reconhecimento pelo trabalho feito;
- Optam por um estilo de vida que coloca a liberdade e a aventura antes de projetos de família e estabilidade;
- Não têm a menor vontade de casar ou ter filhos;
- Querem casar, mas não querem ter filhos;
- Querem ter filhos, mas não querem casar;
- Querem casar, ter filhos e continuar se jogando na balada;
- Consideram que “casada” é apenas um estado civil e não um estado transcendental que exige a transformação de sua personalidade, seus gostos e seu modo de interagir com os outros;
- São mães solo por acaso, canalhice alheia ou opção;
- Abortaram;
- Amamentam em público e decidiram que seus filhos irão acompanhá-las nos meios que frequentam;
- Adoram um buteco com os amigos, conhecem o garçom pelo nome e têm mesa cativa até o bar fechar;
- Dançam, se jogam na pista, fazem quadradrinho de 8, descem até o chão e terminam com uma pirueta.
De hoje em diante, que tal olhar pra cada uma dessas mulheres sem lançar a elas os rótulos de fácil, vulgar, desleixada, piranha, machuda, metida, megera, mal-comida, arrogante, maluca, egoísta, seca, irresponsável, mimada, inconsequente, criminosa, sem-noção, desfrutável ou oferecida?
Assim, pra gente provar que, de fato, a matéria da Veja é um despropósito.
Cresceu ouvindo que era uma menina "cheia de opinião", teimosa, atrevida e inconformada. Um dia, entendeu que esses eram seus melhores atributos pra ser uma mulher capaz de fincar pé nesse mundo de homens. Por isso, escreve.